Ciclone Idai após um ano:

Wednesday 11 March 2020

Dois de milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar em Moçambique depois do Idai

Ciclone Idai após um ano: a África Austral ainda está devastada e vulnerável a desastres climáticos

TERÇA-FEIRA, 10 DE MARÇO DE 2020

MAPUTO: Um ano após o Ciclone Idai deixar um rasto de destruição na zona centro de Moçambique, Zimbabwe e Malawi, quase 100.000 pessoas continuam a viver em abrigos improvisados e estão assustadoramente vulneráveis a futuros desastres climáticos.

As agências internacionais de ajuda humanitária CARE International, Oxfam e Save the Children alertam que, sem um maior financiamento e acção climática sobre as mudanças climáticas a nível global, será impossível limitar o impacto de futuros desastres climáticos e aumentar a capacidade dos mais vulneráveis em se adaptar. As agências urgem aos países ricos que adoptem acções ambiciosas para reduzir o impacto da crise climática, o que contribui para o aumento da frequência e severidade de desastres climáticos como o Ciclone Idai

O Ciclone Idai atingiu o país a 14 de Março de 2019. Apesar de um grande esforço global para arrecadar dinheiro para a resposta, o plano humanitário foi financiado em menos de 50%, deixando buracos na capacidade das agências de ajuda e de atender às necessidades imediatas de famílias devastadas ou investir em estratégias de longo prazo para ajudar as comunidades a criar resiliência e reduzir os riscos associados a desastres.

Vários locais de reassentamento do Ciclone Idai na Província de Sofala já foram devastados por fortes chuvas e inundações que atingiram a área em Dezembro de 2019, com mais de 3.676 abrigos danificados e quase 500 completamente destruídos pelas inundações. Mais de 700.000 hectares de culturas, incluindo milho, feijão e arroz, foram destruídos pelo Ciclone Idai, com especialistas a estimar que o ciclone custou a Moçambique pelo menos 141 milhões de dólares em perdas agrícolas. Esforços para replantar as culturas também foram prejudicados pelas recentes inundações, que destruíram grande parte das culturas de substituição que as famílias haviam plantado com o apoio das agências humanitárias.

Mulheres e crianças sofreram impacto significativo do desastre, sendo que mulheres e raparigas revelam aumento significativo nas suas tarefas diárias na esteira do Idai. Constata-se que mulheres e raparigas agora precisam de se deslocar para muito mais longe em busca de água e lenha, e as meninas passam mais tempo a cuidar dos idosos e irmãos mais novos, porque as suas mães precisam procurar trabalho [Oxfam/SIDA Avaliação do Género, Dezembro de 2019]. O deslocamento contínuo também criou riscos adicionais de crianças serem vulneráveis à exploração, separação das suas famílias e ao abandono escolar.

As temperaturas estão a subir na África Austral ao dobro da taxa global como resultado da crise climática, e muitos países foram atingidos por vários desastres nos últimos 12 meses. Actualmente, 16,7 milhões de pessoas em toda a região enfrentam grave insegurança alimentar devido a uma combinação de ciclones, inundações e secas que destruíram culturas e meios de subsistência. Em Moçambique, estima-se que quase 2 milhões de pessoas enfrentem dificuldades no acesso a alimentos para atender a necessidades alimentares aceitáveis.

Marc Nosbach, Director Nacional da CARE International em Moçambique disse:

“O aumento das ocorrências e a capacidade destrutiva dos desastres causados pelo clima nos países mais pobres sobrecarregam milhões de pessoas inocentes e vulneráveis com a dívida das mudanças climáticas. As pessoas e os países mais vulneráveis são forçados a sofrer enquanto o mundo espera que os principais emissores façam a sua quota-parte e reduzam pela metade as emissões globais de CO2 até 2030. Os impactos cada vez maiores das mudanças climáticas e os desastres mais frequentes e intensos também causam um cenário de crise económica devastador impedindo os ganhos de desenvolvimento. Isto deve-se responder com maior apoio financeiro, protegendo as populações dos impactos nocivos do clima.”

 

Rotafina Donco, Directora Nacional da Oxfam em Moçambique disse:

“Tempestades como Idai provavelmente tornar-se-ão mais destrutivas e intensas à medida que as temperaturas globais aumentam e a crise climática aumenta. À medida que a crise climática piora, os governos e as agências de ajuda lutam para obter os recursos certos para implementar esforços de recuperação e reconstrução rápidos e adequados. Precisamos de financiamento para melhores sistemas de alerta precoce, adaptação às mudanças climáticas e melhor preparação das ONGs locais, dado o compromisso assumido em relação à localização no sector humanitário, pois são os primeiros a responder a estas demandas que tendem a alcançar comunidades como vimos com Idai.”

 

Chance Briggs, Director Nacional da Save the Children em Moçambique disse:

“A crise climática é uma crise intergeracional que afecta crianças agora e no futuro. As crianças contribuíram menos para a crise climática e, no entanto, sabemos que estão  a pagar o preço mais alto. Exortamos um aumento do financiamento para programas de resiliência, para reduzir o impacto das mudanças climáticas nas crianças mais vulneráveis e garantir que suas vidas e futuro sejam protegidos.”

 

FIM

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Notas aos Editores:

COSACA é um consórcio humanitário e de emergência formado pela Save the Children, CARE e Oxfam International. As equipas de resposta da COSACA trabalham em colaboração para responder ao Ciclone Idai e ao Ciclone Kenneth nas Províncias de Sofala, Manica, Tete, Zambézia e Cabo Delgado.

 

-      CARE: Como parte da sua resposta humanitária aos ciclones, a CARE está a distribuir sementes resistentes à seca, que incluem sorgo, ervilha, amendoim, mudas de ananás, milho e mapira, para mais de 36.000 pequenos agricultores em regiões onde as colheitas foram destruídas pelas tempestades em Moçambique. A CARE também está a fornecer capacitação básica em práticas agrícolas aprimoradas que apresentam benefícios aos agricultores e terras segundo as práticas tradicionais. Essas técnicas ajudarão as comunidades a combater os efeitos das mudanças climáticas no futuro.

 -      Save the Children: A Save the Children está a responder aos ciclones Idai e Kenneth em Sofala, Manica, Zambézia e Cabo Delgado. Até a presente data, a Save the Children apoiou mais de 780.000 pessoas, incluindo mais de 450.000 crianças, por meio de programas de Segurança e Subsistência Alimentar, Educação, Abrigo, Protecção Infantil, WASH, Saúde e Nutrição. A Save the Children também está a prestar assistência imediata para salvar vidas e sustentar vidas de crianças e famílias afectadas por grave insegurança alimentar, e ainda está a distribuir sementes, além de apoiar a restauração dos meios de subsistência das pessoas afectadas pela seca e cheias por meio de intervenções de construção de resiliência para mitigar os impactos humanitários do clima irregular.

-     Oxfam: A Oxfam continua a responder nos campos e comunidades de reassentamento em Sofala e Cabo Delgado através do fornecimento de latrinas, e água limpa através de furos e reabilitação dos sistemas de água. Também apoia agricultores e famílias no fornecimento de sementes e ferramentas para permitir que ressuscitem os seus meios de vida afectados pelo ciclone e asseguram que as actividades de resposta fornecidas atendam às diferentes necessidades de mulheres e homens nos vários locais. 

 Para questões de imprensa, por favor contacte:

 Rui Mutemba, Coordenador de Comunicação e Campanhas, Save the Children International, Email: rui.mutemba@savethechildren.org Telefone + 258 84 2162121