PROJECTO KUDZIUA REDEFINE O ENSINO PRÉ-ESCOLAR NA ZAMBÉZIA

Sunday 26 September 2021

Milange e Morrumbala podem ser considerados distritos pioneiros na educação pré-escolar na Zambézia, em Moçambique, depois terem recebido, nas semanas de 9 à 16 de Setembro de 2021, 12 escolinhas comunitárias, equipadas com jardins escolares em igual número de comunidades (seis para cada distrito).

Trata-se de escolinhas construídas pela Save the Children, com o apoio financeiro da Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS), no âmbito da implementação do Projecto KUDZIUA “Educação pré-escolar inclusiva e saúde integrada, nutrição, educação e serviços de proteção na Província da Zambézia, Moçambique - AID 011462”.

O projecto, que começou em 2018, visa, em primeiro lugar, melhorar o desenvolvimento físico, socio-emotivo, linguístico e cognitivo das crianças que frequentam os centros de Cuidado e Desenvolvimento da Primeira Infância/Early Childhood Care and Development (ECCD), nas 12 comunidades dos 2 distritos abrangidos.

Pormenor da Escolinha Comunitária de Checha, em Morrumbala, com seu parque em primeiro plano, momentos antes da sua inauguração.

A entrega de escolinhas foi testemunhada pelos administradores locais em cerimónias que decorreram nas últimas duas semanas, mas o grande mérito vai para as comunidades beneficiárias, que podem já contar com um futuro risonho, pois têm condições criadas para promover uma educação pré-escolar inclusiva e serviços integrados de educação, saúde, nutrição e protecção para as suas crianças.

É que, para além de simplesmente providenciar escolinhas para a educação pré-escolar para crianças de 3 a 5 anos de idade, o projecto Kudziua criou igualmente condições para acautelar aspectos ligados à saúde da criança, com a formação de 12 Comités de Saúde (uma em cada comunidade).

Estes comités fazem a vigilância epidemiológica e prestam atenção integrada às doenças de infância para assegurar respostas imediatas. Alem disso assegura que todas as crianças recebam as vacinas obrigatórias em alinhamento com o Calendário Nacional de Vacinação e cuidam da componente nutrição: o projecto pretende de facto contribuir para redução da taxa de desnutrição aguda.

O projecto também visa a instituição de Comités Comunitários para a Proteção dos Direito da Criança, através de programas de capacitação para aprimorar a capacidade dos mesmos identificar, resolver ou denunciar casos de violação dos direitos das crianças, em estreita colaboração com às autoridades competentes.

Globalmente, 1,500 crianças dessas comunidades foram inscritas no programa de educação pré-escolar, sendo que 660 graduaram já para o ensino primário, um marco importante para comunidades desfavorecidas e remotas cujas crianças vinham-se debatendo com dificuldades ao enfrentar o ambiente de ensino-aprendizagem pela primeira vez aos seis anos de idade, ao ingressarem para o ensino formal frequentando a 1ª classe.

GOVERNO SATISFEITO

Para o Governo de Moçambique, a intervenção do projecto Kudziua é mais do que oportuna por complementar e dar um passo a mais em relação aos seus esforços de educação da primeira infância, sendo que o apelo é que este tipo de iniciativa seja multiplicado. Os administradores dos dois distritos presidiram, acompanhados por representantes das Direcções Provinciais da Género, Criança e Acção Social e da Educação e outros elementos do governo a nível distrital, as cerimónias de inauguração de quatro de escolinhas (dois em cada distrito) em representação das 12.

Momento da inauguração da Escolinha Comunitária de Dabarra, em Milange

 

Reconhecendo o valor dos empreendimentos, o Administrador de Milange, Santiago dos Santos Marques, instou as comunidades a cuidar das escolinhas entregues e a continuar com as actividades de educação pré-escolar, apoiando os activistas e animadores escolares formados pelo projecto Kudziua. O governante sugeriu ainda à Save the Children a reforçar a componente de água e saneamento para facilitar de forma sustentável e continuada a observância das regras de lavagem das mãos, higiene e limpeza dos sanitários, em referência também ao desafio imposto pela COVID-19.

Dialogando com a comunidade de Chifungo, uma das beneficiárias no seu distrito, o Administrador do Morrumbala, João Nhabessa, disse que as escolinhas representam uma grande vitória na luta pela promoção dos direitos da criança, sobretudo no que diz respeito à sua protecção.

Governo, liderança local e crianças testemunham a inauguração de mais uma escolinha em Morrumbala

“É uma forma peculiar de participar no desenvolvimento de Morrumbala, da província, de Moçambique e do mundo, duma forma geral, porque as crianças beneficiárias estarão aptas a interagir com qualquer pessoa, promover o desenvolvimento, a paz e a concórdia”, afirmou ainda Nhabessa, para depois sublinhar que “esta é uma oportunidade rara de ajudar a moldas as pequenas almas, mas que tal deve ser uma extensão da tarefa de educar as crianças que começa dentro da família, pelo que os pais devem continuar a exercer o seu papel dentro de casa”.

“A NOSSA COMUNIDADE VAI DESENVOLVER”

As escolinhas irão facilitar o nosso trabalho como animadoras de crianças

Para os membros das comunidades, o projecto Kudziua abre uma janela de esperança para um futuro risonho. Rosa Fernando, membro da Comunidade de Chifungo e animadora infantil, vê com muita expectativa o legado da iniciativa. Para ela, “muita coisa mudou desde que o projecto Kudziua começou a ser implementado em 2018. As crianças já sabem cumprimentar pessoas, falam correctamente e quando entram no ensino primário já têm alguma coisa na cabeça”. Para Rosa Fernando, as escolinhas só vão melhorar a qualidade do seu trabalho, considerando que a actividade já vinha sendo exercida em espaços improvisados na comunidade e através de trabalhos porta-a-porta com o advento da pandemia da COVID-19.

Criamos um fundo social para ajudar na compra de alguns materiais necessários para manter a escolinha em funcionamento

Adelina Manuel Ernesto, também animadora infantil em Morrumbala, mostra-se satisfeita com as escolinhas, tanto que, à semelhança de todas as outras comunidades, foi criado um fundo para ajudar a gerir algumas despesas de funcionamento das escolinhas, como compra de alguns materiais, de que ela faz parte. “Estamos envolvidos e comprometidos em garantir que este fundo se mantenha activo porque acreditamos que educar as nossas crianças vai ajudar a melhorar a sua vida e a nossa no futuro”.

CRIANÇAS NA GESTÃO DO PROJECTO

Os Comités de Protecção da Criança, estabelecidos ao longo do projecto, como parte integrante do projecto Kudziua, incluem crianças e estas acolhem com agrado a iniciativa e asseguram dar continuidade a todo o aprendizado até aqui ganho. Rosinha Dinis, 11 anos, é membro do Comité de Protecção da Criança e, juntamente com outras crianças, com reforço de membros adultos, ajuda a sensibilizar pais de crianças em idade pré-escolar a inscreverem os seus filhos, assim como sensibiliza contra a violência de crianças. Diz sentir-se orgulhosa de poder ajudar a mobilizar pais e encarregados de educação da sua comunidade a inscreverem os seus filhos nas escolinhas.

Sinto-me orgulhosa em poder ajudar a mobilizar os país a levarem os seus filhos para a escolinha

Simão José, de 12 anos, é também membro do Comité de Protecção da Criança e dentro do projecto Kudziua ele interage com outras crianças e pais e encarregados de educação sobre questões de educação pré-escolar. Diz sentir-se satisfeito com a abertura da escolinha porque os seus irmãos meus novos e outras crianças da comunidade vão aprender coisas novas.

O meu irmão mais novo terá oportunidade de aprender melhor nesta escolinha

A gestora do projecto, Ilenia Guasti, diz que o “Kudziua”, apesar de todos os desafios que a pandemia da COVID 19 trouxe, chega ao fim com sentimento de missão cumprida, não só pelas metas alcançadas durante a sua vigência, mas, e sobretudo, porque através da experiencia comunitária, a presença no campo, a relação entre as pessoas, foi possível implantar sementes de conhecimentos que deixam activistas e parceiros protagonistas do desenvolvimento das comunidades.

Uma Conferência Nacional sobre a educação pré-escolar em Moçambique, a ter lugar no dia 29 de Setembro, vai marcar o encerramento do Projecto Kudziua, mas a Save the Children irá continuar a prestar assistência aos Comités já existentes para capitalizar os ganhos conseguidos ao longo dos três anos da empreitada.