Pais e encarregados de educação dão exemplo de envolvimento nas escolinhas do DICIPE

Tuesday 4 June 2019

Já na fase de transferência de competências do programa DICIPE ao Ministério da Edcação e Desenvolvimento Humano, a Save the Children relata um exemplo de envolvimento de pais e encarregados de educação que, mobilizados pelas CCC´s (Comissão de Coordenação Comunitária) contribuíram para aquisição e montagem de portões para salas de actividades e balneário das crianças na Escolinha de Agostinho Neto, Bairro 5 e Chipenhe, ambos no distrito de Limpopo, em Gaza.

Pais e encarregados contribuíram para aquisição e montagem de portões para salas de actividades e balneário das crianças na Escolinha de Agostinho Neto, Bairro 5

O ECCD-DICIPE é um programa vocacionado ao Desenvolvimento da Primeira Infância (DPI) para as zonas rurais. Este programa está a ser implementado pela Save the Children nas províncias de Gaza, Tete e Nampula. Ao nível da província de Gaza, especificamente nos distritos de Xai-Xai e Mandlakazi, o ECCD deu origem a  pouco mais de 50 escolinhas que foram construídas em três fases: a primeira (2014), com um total de 30 escolinhas, a segunda com 40 escolinhas e a terceira - que teve início em 2018 - considerada período de consolidação, que consiste, entre outras intervenções, na reabilitação das salas de aulas e montagem de portas, uma actividade que está em curso nas várias escolinhas do DICIPE.

À Escolinha Comunitária Agostinho Neto/bairro 5, localizada no agora distrito de Limpopo (que antes fazia parte do distrito de Xai-Xai) esta reabilitação, principalmente a montagem de portas veio dar resposta a um cenário que constitiu motivo de preocupação desde a implantação desta escolinha, e que só veio a ser minimizada em 2017, após intervenção da comunidadede.

À semelhança das restantes 29 construídas na Fase I, as salas desta escolinha, que conta com 102 crianças inscritas, não continham portas. Como consequência, durante a noite, as salas eram invadidas por animais, com destaque para cabritos que urinavam e defecavam, bem como por indivíduos desconhecidos que também defecavam e mantinham encontros intimos, deixando as salas em condições inapropriadas para o cumprimento das actividades da escolinha no dia seguinte.

Devido a esta situação, as facilitadoras eram obrigadas a iniciar o dia com uma jornada de limpeza das salas que durava em média 1h30, de modo a criar condições mínimas favoráveis às actividades. Este factor comprometia sobremaneira o cumprimento da rotina diária.

Por outro lado, a exposição de crianças a fezes e ao cheiro por elas causado colocava-as em permanente risco de aquisição de doenças ou infecção. “Tenho a certeza que este cenário não é exclusivo da nossa escolinha. Neste bairro há muita criação de cabritos, mas por não existirem campos para pasto, os donos optam por deixá-los soltos”, lamenta a facilitadora Angelina Chichava.

"Para deixar as salas limpas, por dia tinhamos que buscar num poço que dista à 300 metros da escolinha 20 baldes de 20L de água”, Facilitadora

Esta situação também se verifica nos balneários das escolinhas, que também não possuem portas, permitindo o uso indevido por parte de adultos da comunidade e alunos da escola mãe. Em resposta à esta preocupação, a população da comunidade de Chipenhe, onde está a funcionar uma escolinha com o mesmo nome, mobilizou-se e conseguiu montar portas nos balneários das crianças. “Antes de termos as grades era dificil trabalhar porque todos os dias tinhamos que perder mais de uma hora a fazer limpezas das salas devido a cabritos e pessoas que sujavam durante a noite. Para deixar as salas limpas, por dia tinhamos que buscar num poço que dista à 300 metros da escolinha 20 baldes de 20L de água”, conta Fátima Salomão Sitoe, facilitadora da Escolinha Agostinho Neto.  

A intervenção

Uma das principais componentes  do projecto ECCD consiste em formar e capacitar Comissões de Coordenação Comunitária que são compostas por dez (10) membros voluntarios e reconhecidos/aprovados pela comunidade durante os encontros de sensibilização e mobilização.

Em resposta à mais esta preocupação, a população da comunidade de Chipenhe, onde está a funcionar uma escolinha com o mesmo nome, mobilizou-se e conseguiu montar portas nos balneários das crianças. A Comissão de Coordenação Comunitária (CCC) participa na gestão da escolinha, apoiando na limpeza; controlo da presença e higiene dos facilitadores e crianças, sensibilização de pais/encarregados de educação para apoiar nas actividades da escolinha, coordenar com a liderança local e directores de escolas.  Estes, mensalmente realizam encontros para discutir sobre as actividades realizadas na escolinha, desafios e próximos passos em questões relacionadas à escolinha.

A Save the Children capacita as CCC´s e procura assegurar que estas se mantenham activas nas comunidades através das monitorias mensais e refrescamento dos membros sobre tudo relativamente à componente de mobilização de pais e encarregados de educação para apoiarem nas actividades da escolinha.

Foi neste contexto que a CCC da comunidade de Agostinho Neto, sensibilizada com a situação da escolinha relativamente à falta de portas que afectava as actividades das crianças e provavelemnte a saúde destes, mobilizou pais/encareegados de educação e juntos decidiram, com a ajuda da direcção da escola mãe, efectuar uma contribuição monetária (cujo valor dependia das capacidades de cada um)  para a aquisição de grades para as salas, evitanto a estrada de animais durante a noite. Num processo participativo, foi identificado e contratado um serralheiro local que produziu o portão de grade e procedeu a montagem nas salas. 

"Como pais e avós das crianças, vimos que precisávamos fazer alguma coisa para colmatar a situação que comprometia as actividades da escolinha, bem como a saúde das crianças" Presidente da CCC da escolinha Agostinho Neto

“Como membros do CCC sempre acompanhávamos com muita preocupação o que acontecia nas salas da escolinha. Como pais e avós das crianças, vimos que precisávamos fazer alguma coisa para colmatar a situação que comprometia as actividades da escolinha, bem como a saúde das crianças. Foi assim que mobilizamos pais e encarregados de educação para que contribuissem com um valor monetário, com o qual conseguimos comprar montar as grades. A situação melhorou mas continuamos preocupados com as casas de banho que não têm portas”, Dins Ribeiro, Presidente do CCC de Agostinho Neto, 5 Bairro, que mostra alguma tranquilidade, ao assegurar que o envolvimento comunitário vai continuar mesmo com a saída da Save the Children. 

A invasão também se verifica nos balneários das escolinhas, que também não possuem portas, permitindo o uso indevido por parte de adultos da comunidade e alunos da escola mãe

O resultado

Após a colocação das grades, as facilitadoras reportam que conseguiram controlar a invasão dos animais, ainda assim, continuavam casos de pessoas que conseguiam pular a grade e introduzir-se nas salas para defecar ou manter relacões íntimas.

Contudo, reportam que conseguiram reduzir o tempo que era dedicado à limpeza das salas, o que permite melhor aproveitamento da rotina diária.

OCom o arranque da terceira fase de implementação do DICIPE, a Escolinha Comunitária Agostinho Neto está já a beneficiar de uma reabilitação que inclui montagem de portas.

Os membros da CCC, juntamente com a liderança local e director de escola tem estado a sensibilizar a comunidade sobre a necessidade de uso adequado e apropriação da escolinha como forma de preservar a infraestrutura para o bem da própria comunidade, sobretudo das crianças enquanto principais utentes.

Com o arranque da terceira fase de implementação do DICIPE, a Escolinha Comunitária Agostinho Neto está já a beneficiar de uma reabilitação e montagem de portas.

Financiado pelo MINEDH, este é um projecto que tem como objectivos: ampliar o acesso a serviço de educação de primeira infância de qualidade entre as crianças menores de seis anos de idade que vivem em comunidades rurais nas províncias e distritos selecionados.