PERDEM-SE OPORTUNIDADES, POR FALTA DE REGISTO DE NASCIMENTO

Tuesday 22 May 2018

 

PERDEM-SE OPORTUNIDADES, POR FALTA DE REGISTO DE NASCIMENTO

- “Tenho perdido muitas oportunidades na tentativa de refazer a minha vida”, afirma Adélia Cossa.

Adélia Cossa, de lenço colorido

Os desastres naturais e humanos, são parte dos factores que forçam muitas famílias moçambicanas a se deslocarem de um lado para o outro. E neste contexto, as mesmas famílias tem perdido, a cada vez, pedaço do que constitui sua vida - as cheias por exemplo, fazem com que muitos moçambicanos percam tudo, até o último documento que lhes identifica.

Em 1983, quando adolescente de apenas 12 anos de idade, Adélia Luís Cossa foi directamente vitimada pela guerra civil em Moçambique, quando levada e mantida nas matas pelos militares em conflito. Depois de alguns anos, ao regressar a casa, deparou-se com a triste notícia de que seus pais tinham perdido a vida. Não encontrando o conforto com que tanto ansiava, desesperada, imediatamente refugiou-se na vizinha África do Sul.

Longos anos se passaram, e como se costuma dizer, “bom filho sempre volta a casa”. E desta máxima, o trajecto da Adélia Cossa não se distancia – regressa a Moçambique onde se encontra numa situação nada confortável, pois segundo ela é constrangedor estar a margem da irregularidade, “sou uma pessoa não registada. Não tenho cédula nem se quer um documento apenas que me identifique”, afirma Cossa

Agora, com pouco mais de 40 anos de idade, Adélia Cossa sente muita falta de qualquer documento que a possa identificar, “tenho perdido muitas oportunidades na tentativa de refazer a minha vida, por falta de registo de nascimento. Luto todo santo dia a procura de emprego para garantir o meu auto-sustento, procuro por tantos outros serviços como abertura de conta bancaria mas sempre fracasso por falta de documentação”, esclarece Adélia Cossa, o exemplo de quem passa e muito bem sabe das dificuldades enfrentadas quando se vive sem o registo de nascimento.

Adélia Cossa junto a outras mulheres da comunidade de Chobela, testemunhando acções de mobilização e sensibilização para adesão aos registos de nascimentos

Diante das dificuldades que Adélia passa, tudo que ela mais quer é poder recuperar o seu estatuto de cidadão – “eu também quero estar registada, pois sem o devido registo continuarei enfrentando mesmas dificuldades todos os dia. O registo de nascimento é a abertura para tudo na vida de uma pessoa”.

Eu sou o exemplo de quem sente na pele a falta do registo de nascimento. Por essa razão, encorajo a todos, pais, mães e cuidadores, por favor, não deixem para amanha o registo que podem fazer hoje. E é deste registo que podem advir vários benefícios as nossas crianças, contrariamente ao que vivo hoje”, adverte Adélia Luís Cossa.