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 Vozes na primeira pessoa: crianças sobreviventes de ciclones em Moçambique falam de trauma e recuperação

Elina (11 anos), à esquerda, e sua melhor amiga Faria (12 anos), à direita, perto de suas casas na região de Cabo Delgado. A casa de Elina foi seriamente danificada e a casa de Faria foi completamente destruída quando o ciclone Kenneth atingiu sua localidade em Abril de 2019.

Poderosos testemunhos em primeira pessoa de 10 crianças sobreviventes dos dois ciclones devastadores que assolaram Moçambique em 2019 aparecem em um novo podcast lançado hoje pela Save the Children.

O podcast de 35 minutos mostra uma imagem aterradora da força dos ciclones, descrevendo vividamente como as crianças viram e sentiram suas vidas destruídas - e a luta contínua para reconstruí-las.

O podcast apresenta a cientista climática Gunilla Svensson, da Universidade de Estocolmo, que discute os vínculos entre os ciclones e a crise climática mais ampla, e a probabilidade de futuros choques climáticos em Moçambique e na região. Segundo Svensson, o aumento da intensidade dos ciclones em Moçambique estava directamente alinhado com as previsões científicas sobre mudanças climáticas.

 

Pelo menos 603 pessoas morreram e 1,5 milhão de pessoas foram afectadas em Moçambique após o ciclone Idai, que atingiu Moçambique, Zimbabwe e Malawi em Março de 2019. Seis semanas depois, o país foi atingido pelo ciclone Kenneth, que matou mais 45 pessoas e afectou ainda mais 280 mil pessoas no norte de Moçambique[I]. As tempestades constituíram os ciclones mais fortes que já atingiram o continente africano. É também a primeira vez na história registada em Moçambique que dois fortes ciclones tropicais ocorreram na mesma época[II].

Para as crianças no trajecto dos ciclones, o impacto em sua vida quotidiana foi terrível, como contam no podcast da Save the Children.

Faria, 12 anos, estava em sua casa na Ilha de Ibo quando o ciclone Kenneth atingiu:

Minha casa desabou de repente ... eu vi pessoas a correr de um lado para o outro. As chapas de zinco das coberturas voaram no ar. Estava escuro, mesmo sendo de dia ainda. Fiquei triste porque pensei que todos morreriam. Na casa de Sandra, havia várias crianças com suas mães lá dentro. Ficamos todos assustados e perguntamos um ao outro repetidamente: POR QUÊ o ciclone Kenneth está aqui? Quando as chapas começaram a cair da casa, parecia um tiroteio. Então eu vi o céu e finalmente a cobertura se soltou e voou para longe. A chuva estava a cair sobre nós.

Elina, 11 anos, estava em casa quando o ciclone Kenneth atingiu sua aldeia. Ela lembra:

Às duas horas os ventos se tornaram cada vez mais fortes. As nuvens estavam realmente escuras. A água do mar começou a ficar muito alta. As pessoas começaram a correr de um lado para o outro. Eu estava em nossa casa. Ouvi o vento e as coberturas a quebrar lá fora. Minha irmã morava na casa ao lado. A casa dela desabou.”

Ali, 8 anos, perdeu a sua casa com o ciclone Idai e está a lutar com a perspectiva de futuros desastres:

Receio que volte. Que a minha casa desabará em cima de mim e que as pessoas morram. Desejo também que todos que tiveram suas casas destruídas possam ter novas casas para que possam viver como viviam antes do ciclone.

A Save the Children foi uma das primeiras organizações no terreno a responder aos ciclones Idai e Kenneth. Lançou uma resposta importante que incluiu apoio à educação e criação de escolas, distribuição de alimentos, apoio às famílias na reconstrução de suas vidas e meios de subsistência e protecção à criança através do estabelecimento de dezenas de espaços adequados para crianças, onde elas podem brincar, se recuperar e aprender. Além disso, a Save the Children ajudou a garantir que as famílias tivessem acesso a água potável, saneamento e habitação. Até o momento, a Save the Children apoiou mais de 400 mil pessoas, das quais mais de 240 mil são crianças.

 
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